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"O segredo" (Parte II)


Hoje deixo-vos um pouco mais da historia que vos contei no passado dia 12 de Agosto no post "Uma História Antiga 
Este texto tal como vos falei está escrito para ser uma peça de teatro, pois tem várias indicações cénicas ao longo do texto, quem conta a história é um narrador semi-presente no entanto poderia ser adaptado para um livro.
Nunca tive esses intentos, mas "who knows"?
 Desvendando um pouco mais desta história, ela fala de um segredo de família escondido faz muitos anos. Tem flashes de tempo entre várias alturas diferentes (desde o final do séc XIX, até à actualidade).
Depois conto-vos mais um pouco...

"(...) (Entra Nanny na sala)

A boa Nanny sempre tão rechonchuda e airosa, dá gosto vê-la a sarilhar de um lado para o outro, mas sempre preocupada comigo:

Nanny- Lisy, precisa de alguma coisa? Tem fome? Eu vou fazer-lhe umas papas de aveia.

E eu a ouvi-la, fazia careta de desagrado e pensava “Agora é que ela vai ficar danada comigo!”

(Lisy levanta-se e dirige-se para o Gira-discos e põe a tocar uma música dos anos 60. Assim que a música começa a tocar, entra Nanny a gritar):

Nanny- Lisy, baixe-me esse cantante, já não suporto ouvir isso a berrar. 
Ai a minha cabeça, preciso dos meus sais, a menina dá cabo de mim.

(Nanny sai e Lisy ri-se da situação)

Coitada da Nanny. Tem sido uma pessoa incrível, abdicou da sua vida pessoal para cuidar de mim, acho que nunca lhe poderei agradecer todas as birras que me aturou, todos estes anos de dedicação e ter-me proporcionado a educação que os meus pais não me puderam dar. Mas ela é tão estranha, nunca ouvi uma só palavra da sua boca sobre a sua família.  
Onde será que nasceu? Quem era a sua família? Nesse dia finalmente iria questioná-la sobre este mistério.

(Levantando-se para desligar a grafonola)

Lisy- Nanny, Nanny vem cá.

Nanny- Sim menina diga. Quer então as papas de aveia, quer com uma casquinha de limão e um pouco de açúcar amarelo?

Lisy- Não Nanny, não é isso. Senta-te aqui ao pé de mim.

(Diz estendendo a mão)

Nanny – Eu menina, sentar-me ai? Não, não posso.

Lisy – Mas eu estou a pedir-te, o que é isso agora? Estás a corar? Não sejas tonta, entre nós não há essas coisas. 
Senta-te lá aqui, porque eu quero falar contigo.

Nanny – (Sentando-se) Diga lá então menina. Passa-se alguma coisa?

Lisy – Não é nada de especial, sabes Nanny, eu tenho andado a pensar, tu estás comigo há tantos anos e nunca me falaste de ti, da tua família, de onde vieste.
Acho que já não preciso que cuides mais de mim, que oiças os meus desabafos. Agora está na altura de eu cuidar um pouco de ti, de ouvir-te falar um pouco agora. 
Já reparaste aos anos que estás comigo e eu nem o teu nome sei? 
Diz-me, quero saber tudo.

Nanny – Não menina, não me sinto à vontade para falar consigo destas coisas. E o meu nome, o que é que isso importa ... até eu já me esqueci de como me chamo.

Lisy – Não digas isso, uma pessoa não se esquece do seu próprio nome. Vá lá, não há razão para tu esconderes isso de mim.

(Nanny mostra-se envergonhada, cora e quase a medo diz):

Nanny – Lisy, eu há muitos anos que não vou à minha terra, desde quem vim tomar conta da menina, esqueci que um dia o Rio Tamisa me viu nascer, esqueci os meus tempos de criança... esqueci tudo.
Durante a minha infância fui muito feliz lá, mas os anos passaram e a felicidade de outrora tornou-se em amargura e ressentimentos.
A minha família esqueceu-me quando a minha mãe morreu. 
Então eu decidi deixar tudo para trás e ir procurar trabalho, foi quando encontrei a sua mãezinha e fiquei a trabalhar para a vossa família.

Lisy- Mas Nanny, ainda não me respondeste, qual é o teu nome?

Nanny- Eu chamo-me Mary Anderson. 
Mas não me pergunte mais nada menina...

(Diz levantando-se e de cabeça baixa a chorar caminha para fora do palco):

Fiquei pensativa, havia algo na história da Nanny que não batia certo. 
Já tinham passado tantos anos e ainda uma amargura destas.
Não, tinha de existir algo mais para além do que ela me contava. (...)"

Comentários

  1. Achei super curiosa a história, o que há mais de Nancy? ;)
    Beijnhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tens de esperar pela semana que vem, para saber o que esconde a Nanny 😉!

      Beijinhos
      Sandra C.

      Eliminar
  2. Sinto que há, de facto, uma história mais profunda e que a Nanny não está disposta a revelar. Mal posso esperar para ler mais *-*

    r: Oh, obrigada :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá! Obrigado. Existe ainda algumas personagens para apresentar, para depois revelar o que se passa. Esta narradora vai dar umas quantas voltas na cabecinha, até que algo faca sentido 😉!

      Beijinhos.
      Sandra C.
      Bluestrass.blogspot.com

      Eliminar

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