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Raquel Martins - Pura Inspiração



Bom dia!
Hoje trago-vos a primeira entrevista do mês de Março de 2025. A Raquel, para além de mulher, é mãe, esposa e fisioterapeuta.

Conheci a Raquel, não sei ao certo há quantos anos, no sitio onde um dia gostava de morar, em Arões, perto de Fafe. 

Admiro a Raquel pela sua tranquilidade, pela sua maneira de estar e de levar a vida. Admiro a sua coragem por tomar o pulso à sua vida e lutar pelos seus sonhos!

Parabéns Raquel, és uma inspiração!

- Para quem ainda não te conhece, quem é a Raquel Martins?

💜Sou a Raquel, tenho 29 anos, sou mãe de duas meninas com três anos. Sou profissional de saúde, fisioterapeuta por conta própria. Foi um dos maiores passos da minha vida, que me transformou profissionalmente e pessoalmente também, porque dá-nos asas para sermos mais e melhor. Principalmente sou feliz, muito feliz no que faço, muito feliz com o que tenho, muito feliz na mãe que sou e na família que construí até hoje.


- Antes de falarmos da tua profissão, gostava de falar um pouco da tua experiência como mãe.

💜Quanto à minha experiência como mãe, acho que está ser um desafio maior do que aquilo que eu esperaria, porque mais que uma mãe sem erros eu quero ser uma mãe que não dê uma infância para ser curada, mas uma infância para ser lembrada, com muito amor, muito carinho, muita atenção e compreensão.

Mudei recentemente as meninas de escola, para uma escola onde a base é o respeito pela criança, são ouvidas como são ouvidos os adultos, são tratadas como seres individuais, ou seja, tem os seus quereres, os seus não quereres. 

É uma escola muito diferente, com muito contacto com a natureza, tem a promoção da autonomia que eu sempre quis para elas desde pequeninas, elas são autónomas. Trabalham muito as emoções, tanto as delas como as dos outros e isso já se vê em casa, uma com a outra, elas já se compreendem mais e já se preocupam com o que a outra está a sentir e isso é maravilhoso.

- Quando soubeste que a tua gravidez seria de gémeas, qual foi a tua (e a do Carlos) reação? Era algo que estavam à espera?

💜Eu queria muito engravidar e depois quando soube que eram gémeas, eu soube antes de saber, porque o meu corpo começou a desenvolver muito rápido. Eu tinha um mês de gestação e já tinha de esconder a barriguita e a verdade é que isso me deixou assim um bocado desconfiada. Eu acharia que fossem gémeos, Depois, eu trabalho com o Rui, um ser excepcional, que também tem gémeos e disse-me que achava que também eram gémeos, só não sabia se eram dois ou três, mas que gémeos eram. E isso veio confirmar a minha desconfiança. 

Preparei o Carlos para esta possibilidade, mas ele nunca se preparou para tal. Então quando soube, o Carlos achava que tinha de emigrar, porque não íamos dar conta do recado financeiramente aqui em Portugal.  A verdade é que não é fácil, mas também não é impossível. 


- Sendo pais de primeira viagem, qual foi a maior dificuldade porque passaram?

💜Como pais de primeira viagem, a maior dificuldade porque passamos... não sei, porque acho que ainda é um bocado difícil. Principalmente uma coisa que nós não falamos antes delas nascerem, é o tipo de educação que nós lhe queríamos dar. Então nós vamos ajustando a nossa educação à medida que as fases vão mudando nas vidas delas. E acho que estamos a fazer um bom trabalho para já, porque olhamos para trás e estamos muito orgulhosos do percurso, apesar de sermos pais de primeira viagem e logo pais de gémeas, não é? Acho que está a correr muito bem.


- Agora que as Marias já têm três anos a pressão dos primeiros tempos já acalmou. Como foi o regresso ao trabalho? E gerir tudo?

💜O regresso ao trabalho não foi fácil. Eu não digo que fiquei com depressão pós parto, porque não foi o pós parto que me deixou mal, foi o regresso ao trabalho mesmo. Eu voltei ao trabalho, num sector diferente, eu trabalhava em lar e depois passei para os cuidados continuados e digamos que foi uma fase muito difícil. Pouco apoio a nível da equipa, acho que pouca compreensão, não percebi muito bem. Mas, o facto de eu estar tão frágil, levou-me a uma depressão e acabei por me despedir.

- Tu és fisioterapeuta, sempre foi esta a profissão que quiseste ter?

💜Eu queria ser fisioterapeuta, eu dizia que queria ser fisioterapeuta com 11 anos, porque acompanhava a minha prima Maria ás sessões de fisioterapia, ela tinha um ano e teve uma paralisia facial. No entanto, o que é que aconteceu? Eu não entrei, não tinha notas suficientes para entrar, então entrei em psicologia. E achava que esse seria o caminho da minha vida, só que não. Passado dois meses, eu percebi que não, não era aquilo que eu queria e estava lá super obrigada. E eu sou muito de só fico onde sou feliz e sempre fui assim e isso ainda permanece. Hoje em dia, feliz ou infelizmente, para muita gente é infelizmente, mas eu sai e fui realmente estudar fisioterapia e hoje acho que foi a melhor escolha que eu fiz.


- Esta área é muito extensa e tem muitas especialidades. Tu dedicas-te à área da Fisioterapia Pélvica, por algum motivo em especial?

💜A Fisioterapia Pélvica, porque eu era uma doente de Fisioterapia Pélvica. Eu desde criança, tinha 9 anos e ainda fazia chichi nas calças e na cama. A minha família nunca achou que isto era um problema. A minha família sempre achou que simplesmente eu não queria ir à casa de banho. E chamavam-me alguns nomes que eu não vou repeti-los, porque acho que nem sequer devem ser ditos a uma criança, quanto mais a uma criança que tinha problemas e não foi ouvida e não foi trabalhada nesse sentido. Então eu fui paciente de Fisioterapia Pélvica e aquilo ajudou-me tanto, que eu pensei que acho que não vou passar a minha vida a tratar costas e afins, vou passar a minha vida a tratar mulheres que precisam de elevar a sua autoestima e a Fisioterapia Pélvica não é só tratar o pavimento pélvico, nós tratamos mesmo a autoestima das mulheres e elas saem de lá novas.


- Falar sobre a mulher e a sexualidade de alguma forma ainda hoje é um tabu. Como se ultrapassa essas questões?

💜Nós estamos numa sociedade e eu estou num meio mais pequeno do que tu, não é, mas acho que também não há assim uma grande diferença. Estamos numa sociedade em que a sexualidade ainda é vista como uma coisa quem tem de se esconder e que quanto mais tarde melhor e que as crianças não podem abordar este assuntos. Eu acho que a ignorância é um defeito muito grande. E a nossa sociedade a nível da sexualidade, ainda tem muito que aprender e fechar-se para este conceito, ainda nos traz mais problemas. Não só a sexualidade a nível de relação, mas a sexualidade a nível de traumas que possam existir, relações anteriores, ou como até já abordei, com familiares que abusam de crianças e depois como é uma coisa tão tabu, as crianças nem sequer acabam por ter o à vontade de contar que foram abusadas ou que aconteceu algo estranho, não é? Então é um assunto, pouco falado mas com muita necessidade de se falar.

E eu na minha área, o meu caminho e a intenção que eu tenho é desmistificar muitas coisas a nível da sexualidade e abrir muitas mentes para que uma geração futura seja muito mais informada e muito mais aberta nesta área.

- Quem são as mulheres que te procuram e quais as dúvidas e questões que te colocam?

💜As mulheres que mais me procuram são mulheres que tem incontinência há anos. Depois da incontinência, nós acabamos por falar abertamente sobre vários assuntos e nas primeiras sessões até tem dificuldade em se abrir completamente e acabam por não contar tudo, mas acho que as pessoas me procuram também pela calmaria. Também já fui abordada dessa forma, pela calma que eu transmito, tu sabes a forma como falo, como as abordo, porque a primeira mensagem que elas me mandam nunca é respondida de ânimo leve, eu penso no que ela me está a questionar, penso porque é que ela me está a procurar e no que é que eu a posso ajudar. Mesmo que não seja comigo, posso direcioná-la para outros lados e essa pessoa acaba por fazer parte da minha vida para sempre. Nunca mais me esqueço, que levei a minha filha ao hospital para levar pontos e depois eu disse à médica que lhe ia doer muito a tirar os pontos e a médica disse-me que "isso já não é um problema meu". E eu fiquei 😞... nem respondi, porque na minha área, nas minha consultas não é assim. 

A pessoa desde o primeiro momento, mesmo por mensagens no Whatsapp ou no Instagram, desde o primeiro momento que ela me aborda, essa pessoa passa a ser da minha responsabilidade também. Eu sinto muito isso, não levo esses problemas para casa porque desde o momento que vou buscar as minhas filhas, eu sou das minhas filhas, mas a paciente é minha, os problemas da paciente também sinto que tenho que ajudar e tenho que arranjar uma solução, porque faz parte de mim e eu gosto de me sentir útil na vida das pessoas.

- Profissionalmente és "gestora" do teu tempo profissional, ou seja, deixaste de trabalhar por conta de outrem.  Tomaste essa decisão de ânimo leve? Que mudanças ocorreram?

💜Não foi de ânimo leve, mas foi eu acho que devo fazer isto e questionei as pessoas mais próximas. Mas se calhar, duas ou três pessoas disseram que sim que devia, o meu marido dizia que não, que nós tínhamos contas para pagar e então isso seria uma risco muito grande, mas eu fui. Despedi-me, porque eu não estava bem comigo mesma, já não sentia que aquilo me acrescentava nada, não só a nível salarial, a nível de tempo, a nível de cansaço físico e mental, já não era o melhor para mim e eu também não estava a dar o melhor de mim ás minhas filhas. Então, só fui, na fé e correu super bem. 

A minha vida mudou a 500% , eu sinto-me muito mais leve, tenho tempo para mim, tenho tempo para as minhas filhas, para o meu trabalho, para as minhas pessoas (as pessoas são as minhas pacientes). Tenho tempo para gerir, se eu amanhã preciso de descansar, amanhã eu não estou bem para dar consultas, eu desmarco as minhas consultas e concentro-me em mim também porque eu para curar alguém, eu tenho de estar de estar bem.

- Deixa uma frase que te inspire.

💜Uma frase que me inspire... deixa-me pensar.... uma frase que faz sentido na minha vida, não é uma frase pré-construída é que se eu não estou bem, eu não fico. Ou seja, se acho que devo mudar, eu vou mudar, independentemente das consequência que isso vai acarretar. Se para mim é uma questão, eu faço agora e não deixo para depois. 

- Deixa uma música que te acompanhe...

💜Não te vou dizer uma música que me acompanhe, porque vou dizer um hábito que eu mudei há pouco tempo com as minhas filhas lá em casa que foi, nós acordamos e vamos para a mesa tomar o pequeno almoço e eu ponho uma música de fundo, uma música que nos relaxe, uma música que nos dê energia que é para irmos bem dispostas para o resto do dia. E curiosamente, hoje não o fiz e a manhã foi horrível. Eu hoje não meti a música e a Luísa não se queria vestir, foi uma manhã que foi um caos. Só agora, é que eu refleti que se calhar foi isso que faltou. A verdade é que quando ponho a música de manhã, a manhã é muito mais calma e nós vamos muito mais tranquilas.

Obrigada pela disponibilidade, pela franqueza e simplicidade!
Muito sucesso na tua e vossa vida!

Beijos e abraços a todos!
Sandra C.

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