Os anos passam, os meses fogem, as
semanas correm, os dias, horas, minutos e segundos voam a um ritmo alucinante.
Eu sinto-o, quando vejo os meus filhos a crescer, os fios de cabelo branco a
aparecer, fruto de preocupações e também de momentos bons que nos escorrem
pelos dedos e que muitas vezes não conseguimos ter controlo sobre os mesmos.
Indiferença, esse é o sentimento que
tende a proliferar nos dias que correm. Sinto que cada vez mais somos indiferentes
aos sentimentos que outros possam nutrir. Sejam eles bons ou maus, não importa,
o menosprezo e envolvimento cada vez é mais vazio entre os comuns.
Óbvio que existem exceções à regra,
mas até essas exceções criam desconforto perante os demais, pois ao contrario
do que se costuma dizer “o hábito faz o monge”.
Eu sou assim, sou das pessoas que se
importa, que se emociona, por vezes até fácil de mais. Sou das que ao ver um
filme, numa cena mais tocante, ou ao presenciar uma situação diante dos meus
olhos, que para alguns é só mais uma coisa, para mim é aquele momento.
Acho que sempre fui assim, ou melhor,
após ter sido mãe talvez tenha “agravado” mais esta condição. Creio que com o
passar dos anos, ao ganhar muita coisa, mas também ao perder (vidas) me tornei
numa pessoa sensível demais para a sociedade em que vivemos.
Vivemos numa sociedade em que temos de
mostrar que somos sempre fortes, sempre positivos, sempre bem, sempre… só que
não. A realidade não é de todo essa, cada vez mais vez pessoas que passaram uma
vida inteira a estar bem, passam a ser pessoas que estão mal, mesmo muito mal e
que caem num abismo tal, que é muito difícil sair dele.
Muito se fala da saúde mental, da
ansiedade, das depressões, do “burnout” e é complicado! É complicado assumires
que nem sempre estás bem, que nem sempre tens as capacidades que exigem que tu
tenhas, que hoje faças mais números do que aqueles que fizeste ontem… Já
repararam em como somos meros números nesta sociedade?
Quando vão na rua, têm a capacidade de
olhar à vossa volta e tentar entender os sinais?
Será que aquela pessoa que está na
caixa do supermercado, precisa de ajuda após estar oito horas a atender
clientes? Será que a pessoa que te atende quando ligas para um serviço, estará
a ter um dia bom? Estará doente, terá mãe e pai, será casada, sofrerá de
violência doméstica? E os nossos filhos? Será que temos a certeza do que se
passa com eles no dia a dia na escola? Serão eles também vitimas da sociedade e
nós por andarmos tão ocupados não nos apercebemos do que se passa?
É hora de por a mão na consciência e
olhar mais em nosso redor. A vida é muito mais do que uma rede social, a vida é
real, de pele e osso, de corações que batem, de cheiros que se misturam, de
emoções que se vivem!
Só assim viver faz sentido! Só assim “o mundo pula e avança” e tal como Patrícia Baltazar escreve no seu poema “Prólogo” sobre a liberdade, também a vida "(…) é para ser livre. Não é estanque. Não existem academias ou falsas humildades. Falsas volúpias. Não está na escola ser-se o que não se é. Não devia.(…)”
E você já viveu a sua vida hoje?
Sandra C.
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