Bom dia!
Hoje comemora-se o Dia do Livro Português e para comemorar este dia desafiei a Ana Guilherme Martins, mais conhecida por Ana Gui, autora do livro infantil "Julieta, a Borboleta de Jaqueta", a escrever sobre o tema.
Achei interessantíssimo, como a Ana colocou o seu ponto de vista e, não podia concordar mais com tudo o que foi dito, efectivamente continuamos a ter em mente que o que vem do estrangeiro é melhor do que aquilo que é nosso. E é apenas uma questão de perspectiva, o mercado literário como em tudo, tem o bom, o medíocre e depois aquilo que não interessa.
Temos que abrir os nossos horizontes...
Deixo-vos com a opinião da Ana Gui, sobre os livros de autores portugueses.
"Sou da geração que assistiu à acentuada emigração de muita família para outros países da Europa como França, Alemanha e Suíça. Sou da geração que escutou incontáveis comparações entre Portugal e esses países onde a vida era suposto ser melhor. Poderá ter sido, mas, com certeza, muito depois. No início as dificuldades sentidas na adaptação à nova realidade foram muito duras e a pobreza persistiu. Por isso, sempre que regressavam à terra, estes emigrantes contavam maravilhas desses outros mundos, então, longínquos. A mesma longa distância que queriam ter da dura realidade que era estarem fora de casa, longe da família, à distância do que queriam ter por perto. Lá, não se adquiria um pacote de bolachas, compravam-se 4 de uma vez. Lá, as mercearias eram hipermercados, espaços gigantes onde não se comprava à semana, mas sim ao mês. Lá, tudo era muito mais do que cá. Ainda me lembro de passar pela mala da minha prima para inalar o odor perfumado da roupa lavada que, de facto, emanava um cheiro para lá de bom.
Estas visitas do estrangeiro insistiam em desviar a atenção da minha realidade, que mal concebia na altura, para a virar para o que era, segundo muitos, bem melhor. Cresci a assistir a estas comparações, mas raramente me deslumbrava. Percebi que lá era diferente, mas não compreendia em que é que isso tornava o “cá” tão menos bom assim.
Percebi-o mais tarde, numa das aulas de Cultura Alemã em que a professora incentivava o debate saudável referente aos temas abordados. Não me lembro, ao certo, do sumário desse dia, mas recordo perfeitamente a epifania que me assolou. Da correspondência das realidades dos países que os alunos já tinham tido oportunidade de conhecer, depreendeu-se uma grande lição que nunca mais esqueci. Para alunos que vivenciaram o dia-a-dia da mesma cidade, a visão não era a mesma. No meu caso, a minha melhor amiga da altura era francesa e não correspondia a um único rótulo atribuído ao país onde nascera. As comparações continuaram e envolveram pontos de vista sobre o modo de vida e de pensar de muitos outros lugares do mundo. Opiniões sobre os portugueses, os espanhóis, os italianos, os chineses, etc, comparações essas que, para mim, desvaneceram no fim daquele debate.
Esta lição perdura até hoje e prossegue, mais do que nunca, aplicável em muitos outros contextos, é certo, mas continua a sê-lo para a cultura. “A beleza está nos olhos de quem a vê”, certo? Assim, não considero haver livros melhores, nem piores em Portugal em comparação com o estrangeiro. Há simplesmente livros diferentes, de perspectivas diferentes e de vivências diferenciadas segundo os seus autores para leitores também distintos. Da jornada que tenho percorrido desde 2019, posso dizer que os autores portugueses são tão criativos e diversificados quanto as paisagens do nosso país!
Podemos até conhecer e gostar mais de livros de autores estrangeiros, mas isso não faz com que os livros portugueses sejam menos bons. Nasci na geração que via no estrangeiro e no “lá fora” tudo de melhor, mas estou contente por, hoje, assistir a alguma abertura de horizontes. Sejam quais forem as fronteiras que cada um decida erguer, acredito que a leitura fomenta e demonstra a inutilidade das mesmas."
Votos de muito sucesso.
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