Avançar para o conteúdo principal

O dia 6 de Janeiro nunca vai ser o mesmo ..


 ...desde que há 10 anos o telefone deixou de tocar. Desde que recebi a notícia que deixou o meu coração em mil pedaços, ainda que me esforce por o manter direitinho.

A manhã fria daquele dia veio mudar ideia minha visão do mundo para todo o sempre... aquele minuto de vida, fez parar o tempo, fez-me descrer em tudo o que sempre tive como certo:
- O telefone que tocava sempre naquela hora certa.
- A voz que me saudava e que conhecia tão bem.
- Os conselhos que me foram dados durante toda uma vida e, que naquele dia surgiam todos em catadatupa, como um filme passado em modo rápido.

Na altura, o estado foi de total dormência, nó na garganta que não passava . Ouvia vozes ao longe, mensagens mal definidas que chegavam entrecortadas...

Nunca estamos preparados para este dia, por mais que digamos que sim, por mais que o universo nos envie sinais (e a mim enviou-me vários, nos meses anteriores), a notícia é sempre recebida com um choque eléctrico, como um abanão, como um não sei quê que não se explica apenas se sente e, como se sente. 
E não "passa", como alguém nesse dia disse que passava. 

Acho que nessa altura sem querer criamos uma bolha, com um oxigénio diferente, que é renovado pelas memórias que temos...
Fora da bolha, a vida insiste em chamar-nos e somos obrigados a dar o salto, mesmo quando ainda não estamos preparados para o fazer. E nós vamos...mas o coração continua ali, preso, nem sim, nem não, os batimentos seguem, ora lentos, ora desenfreados.
Num misto de tontura com dor e amargura, tudo num verdadeiro turbilhão.

Com o passar dos meses, anos, o turbilhão vira tempestade e a tempestade vira chuva, mas nunca mais o coração ficará um céu pleno de azul... existirá sempre uma nuvem branca que se vai preenchendo de saudades e que acaba por se tornar num todo cinza, acabando por derramar grossas lágrimas.

Assim é o luto. Esta palavra pesada não é um todo, igual para todos. Cada um vive-o à sua maneira. 
Para alguns estas minhas palavras nem sentido farão, pois o que sentiram foi o oposto do que descrevo, tal como o amor, com as suas mil cores e nuances... 
Mas o luto, é uma porta pequenina que se fecha no nosso coração e que guarda com chaves perdidas no tempo, as memórias iluminadas da eternidade.

Beijos e abraços.
Sandra C.

Comentários

  1. Que é verdade mesmo, nada é como queremos, mas cada um vive a sua maneira
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

    ResponderEliminar
  2. A tal da saudade gostosa como me disseram um dia também não ocorreu, querida amiga Sandra.
    Tenha um 2022 especial, muito feliz e abençoado junto aos seus amados!
    Beijinhos 😘

    ResponderEliminar
  3. um abraço apertado apertado, para mim ainda não passou um ano e a intensidade é a mesma, sinto tal como tu! Obrigada pela partilha tão tu!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Pode comentar... o Bluestrass não morde!

Mensagens populares deste blogue

É Preciso - Miguel Gameiro

Bom dia!! Hoje trago-vos a mais recente música de Miguel Gameiro. Acho piada olhar para ele e ao mesmo tempo olhar para mim e para muitos desta mesma geração, como mudamos com o passar dos tempos. Não que isso seja mau, bem pelo contrário... As músicas do Miguel sempre me tocaram muito, não só porque acompanho o trabalho dele quase desde o primeiro momento, mas também vejo muita das minha verdades nas letras e músicas dele. Somos da mesma freguesia, eu cresci na terra ao lado da dele, temos amigos em comum, no entanto só nos cruzamos uma única vez, num momento bem triste. Voltando a esta canção, mais uma vez acertaste na muche, esta é mais uma daquelas canções que daqui a muitos anos, os nossos filhos e netos vão querer saber a história dela! Parabéns!!                                               Foto by Facebook Miguel Gameiro  É preciso Parar ne...

Restolho - Mafalda Veiga

Bom dia! Adoro quando sou surpreendida por musicas recentes que me tocam, mas também quando ouço algo que em tempos acompanhou a minha vida. É o que acontece com esta música. Sempre gostei muito de ouvir Mafalda Veiga, principalmente na adolescência, as suas músicas sempre me concederam momentos de pausa e de reflexão.  Esta música faz-me lembrar momentos de verões eternos, quando a seguir ao almoço o calor era tanto que se ouviam as cigarras.  Do doce das uvas, das amoras e dos figos pelos caminhos duros.  Do rio calmo e fresco, dos peixes que teimavam em fazer as suas danças e quase que nos vinham beijar a pele.  Dos fins de dia quase noite quando caminhavamos cheios de uma felicidade que enchia o coração. É bom recordar... "Geme o restolho, triste e solitário A embalar a noite escura e fria E a perder-se no olhar da ventania Que canta ao tom do velho campanário Geme o restolho, preso de saudade Esquecido, enlouquecido, dominado Escondido entre as sombras do ...

Eduardo Viana - O supersticioso e obstinado

Eduardo Viana , pintor nascido em Lisboa no dia 28 de Novembro de 1881 na Rua do Loreto, nº 13 no quarto - andar, filho de José Afonso Viana e de D. Maria das Dores Fonseca Viana foi um dos nomes sonantes da pintura do século XX em conjunto com outros pintores como Amadeu de Sousa-Cardoso, Almada Negreiros, Robert Delaunay e Sónia Delaunay, Mily Possoz (de quem veio a estar noivo entre os anos 1919-1925) entre outros. Uma personalidade impar,”(...) Supersticioso, austero, exigente e obstinado (...)” era capaz de “(...) raspar qualquer trecho ou pormenor, aparentemente insignificante, de uma tela já coberta; repintá-lo uma, duas, número sem conto de vezes, até acertar na forma, mas, sobretudo, no tom, era, para Eduardo Viana, o pão nosso de cada dia. Que saibamos, um ano (...) levou o insatisfeito pintor a encontrar, após sucessivos ensaios, a cor de um simples lenço sobre que, numa natureza morta, repousavam uns frutos (...)” Matriculou-se no Curso Geral de Desenho da Sociedade de Bela...