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Marlene Fernandes - O sabor fantástico dos desafios da vida!



Hoje trago-vos a Marlene, uma mulher cheia de iniciativas e com motivos para sorrir e para nos fazer sorrir a nós.
O meu caminho e o dela cruzaram-se nos corredores e "ilhas" do trabalho. Aqui vos deixo a entrevista de uma menina/mulher que encara os desafios de frente e vai... sem medos!

Marlene, nos teus tempos de criança e adolescente, como vias o teu futuro?

- Esta a pergunta faz-me sorrir, é bom voltar lá atrás. Tive uma infância muito boa. Cresci numa aldeia no interior do país, Corgas, em Proença-a-nova, a minha rua era a extensão da minha casa, os meus vizinhos são até hoje a extensão da minha família nuclear.  Sinto que cresci rodeada de mulheres fortes mas muito humanas e de homens que, mesmo sem saberem, me incentivaram à rebeldia de os olhar como igual. Fui uma criança sonhadora e independente, curiosa e energética e que sempre "lutou" pela sua liberdade. A adolescência trouxe muito questionamento e rebeldia, talvez por isso sempre me imaginei a sair da regra, não ser mais uma, sonhava em construir o meu próprio caminho, mesmo consciente dos desafios que tinha pela frente. Aos 16 anos fui estudar para Pedrógão Grande e alcancei parte do que almejava, independência, mas também a responsabilidade dessa independência. Estudava durante a semana e trabalhava ao fim de semana e durante as férias, guardo tantos momentos bons!



Quando deixaste Proença-a-Nova, o que esperavas encontrar na capital? Uma oportunidade de trabalho? Estudar?

- Vim para Lisboa atrás do coração, culpa do Flávio, o meu companheiro para a vida. Conhecemo-nos em Castelo Branco, e depois de quase dois anos de uma relação à distância, achámos que aquilo que sentíamos era sério demais para não ser vivido plenamente. 
A capital foi a localização consequente e até se mostrou bastante desafiante para a minha natureza, uma menina da serra, apaixonada por tudo o que é natural, chegar à grande cidade de betão e ruído… estar constantemente rodeada de pessoas que não se olham nos olhos nem se encontram no sorriso… foi e ainda é desafiante!

Durante alguns anos, a tua vida profissional passou por um edifício e por atenderes clientes ao telefone, esse trabalho foi um escape para ti, que sonhos profissionais tinhas para a tua vida?

- Foi sem dúvida um escape, dentro de toda a desordem era seguro e rotineiro. Seguro, porque eu e o Flávio trabalhávamos no mesmo edifício, com o mesmo horário, com as mesmas folgas. Durante esse tempo só pensava em voltar para a minha serra semear batatas, digo isto a sorrir, mas houve momentos muito difíceis. Sofri de burnout, hoje é sobejamente conhecido, mas na altura nem eu sabia ao certo o que se passava comigo. Felizmente consegui ultrapassar, e apaixonei-me pela parte boa do trabalho, poder fazer a diferença na vida de alguém. Atender cada cliente como se fossem os meus "velhotes" ou os meus familiares. No outro lado da linha encontrei pessoas incríveis, espero que muitos deles também tenham sentido o mesmo.

Passados vários anos deste um pulo para abraçar um novo projecto. Quando te fez o clique que era a hora de mudar?

- A maternidade foi um "wake up call", e se já andava descontente com o meu dia-a-dia, o nascimento do Raphael colocou data para a saída! Não me fazia sentido dizer ao meu filho para ele seguir o coração e ir atrás do que ama e eu trabalhar num sítio e numa função que não estava alinhado comigo nem com a minha energia!
Tentei junto da empresa negociar a minha saída, aguardava resposta, mas houve uma manhã, ao deslocar-me para o trabalho, que disse um basta… voltei para casa e despedi-me. Tínhamos acabado de mudar de cidade, estávamos a criar o ambiente que desejávamos para o Raphael, mais próximo da natureza, a energia à minha volta estava harmoniosa e vibrante e depois tinha de 2ª a 6ª aquele trabalho…. Não fazia sentido… não encaixava mais….era uma peça de outro puzzle...


Que projecto foi esse? O que mudou na tua/vossa vida?

- O projeto foi o Verde Fresco! A principal mudança foi sem dúvida o trazer-me novamente para este mundo da gastronomia, quando na altura estava muito direcionada para a educação, muito pelo impacto que a maternidade teve em mim. Tirei curso de restauração, mas havia mais de 9 anos que não trabalhava na área, muito pela incompatibilidade de horários versus família… a cozinha sempre foi uma paixão e um escape… a gastronomia vegetariana um mundo que já exploro desde os meus 17 anos… 
O Verde Fresco despertou em mim infinitas possibilidades, e isso é mágico!



Com certeza que um dos maiores desafios da tua vida, foi o nascimento do Raphael. Sentias-te preparada para abraçar o desafio de ser mãe?

- A maternidade continua a ser o maior e mais ambicioso desafio da minha vida, e adoro!
Decidi muito cedo que seria mãe só depois dos 30, numa fase inicial para acalmar os "pedidos" à minha volta, mas também para alimentar a necessidade de segurança e controlo que sentia, acreditava que aos 30 já estaria razoavelmente estável para assegurar confortavelmente a chegada de um filho. Tinha trabalho que garantia ordenado no último dia útil do mês, vivia numa relação estável, tínhamos comprado casa, carro… e então chegou o Raphael e trouxe com ele uma imortalidade, uma necessidade de voltar à essência e revolucionar tudo… a maternidade trouxe-me a rebeldia da adolescência mais amadurecida mas nem por isso menos questionadora!


Sempre foste uma mulher de desafios, ou ponderada todos os prós e contras de cada um deles?

- Acho que sou um misto de ambos! A minha essência é aceitar desafios, aliás lanço desafios a mim mesma com muita frequência, e divirto-me imenso nesse "jogo". Mas estando em estado "crise emocional" ou seja quando as minha necessidades emocionais não estão equilibradas torno-me muito mais ponderada e precavida. 
Aprender a equilibrar o meu lado emocional têm sido das maiores e mais interessantes aprendizagens dos últimos anos, continuará a ser que ainda tenho muita estrada pela frente!



O teu gosto pela culinária vem de onde?

- Desde que me lembro gente… acredito que esta paixão não começa na cozinha, mas sim no produto… sou apaixonada pelo processo...preparar a terra, semear, cultivar, cuidar, colher, preparar o alimento, cozinhar, comer, saborear e partilhar!
A minha mãe é uma cozinheira de mão cheia e desde sempre tive acesso a comida saborosa e bem temperada, talvez por isso o meu tipo de culinária seja tão instintivo e seja tão acentuado em mim esta dificuldade de seguir e registar receitas. Mas como gosto de me desafiar estou agora a partilhar receitas das nossas refeições e está a ser muito interessante, mas também desafiante.


Quando estás na cozinha que histórias contas? 

- É muito interessante esta pergunta, rouba-me sorrisos! São tantas as histórias, as danças…
Mia Couto escreveu " Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. 
Cozinhar é um modo de amar os outros."
Escolho cozinhar por amor, e tento contar histórias de amor através da comida… para que seja alimento para o corpo e também para os restantes sentidos!

Em seguimento a este gosto, voltas a mudar e criar um projecto teu! Queres-nos contar em que consiste este desafio?

- Este mês de Março trouxe desafios para os quais ninguém estava preparado! Optei por enquanto e para segurança da minha família, parar um pouco. Estamos em família e individualmente a recentrar-nos, a fortalecermo-nos e definirmos metas futuras. O Covid19 trará mudanças as nossas vidas, é uma verdade incontornável... acredito que serão mudanças boas se as aceitarmos de mente e coração aberto. 
Novidades irão surgir no tempo. Por agora estou a partilhar receitas vegetarianas nas minhas redes, não é muito, mas foi a forma instintiva que arranjei de dar alguma coisa aos outros nesta fase, almejo que seja útil para muitas famílias. É a minha humilde forma de dar amor ao mundo!

Daqui a 10 anos como te vês?

- Apesar de gostar muito de viver o agora….
Vejo-me a abraçar as minhas pessoas!
Sei que vou aumentar a família e não falo necessariamente de ter mais filhos! A minha família é sem dúvida o meu projeto pessoal.
O meu projeto para o mundo é dar amor através da comida.

Deixa-nos um pensamento e uma música para acompanhar a entrevista. Faz acompanhar esta entrevista com algumas fotos tuas, se achares por bem até das tuas criações gastronómicas.

- Gosto muito de uma frase do Chef Marco Pierre White "A perfeição são muitas pequenas coisas bem feitas", deixo-vos esta reflexão… Na nossa vida, tal como na cozinha não existe perfeição absoluta, mas se observarmos e sentirmos as pequenas coisas bem feitas,talvez se faça magia!

Para momentos em que é preciso aterrar, por os pés na terra e enraizar!


Para momentos desafiantes, sabendo que, vai ficar tudo bem!



Comentários

  1. Que conversa tão boa! Obrigada pela partilha :)

    ResponderEliminar
  2. Adorei a entrevista e descobrir o percurso e projectos de vida da Marlene!
    Grata pela partilha! Beijinhos para ambas!
    Ana

    ResponderEliminar

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