Ora agora falas tu! "No dia em que a minha vida mudou..."

Hoje trago-vos a história de uma querida amiga, conhecemo-nos pela via da maternidade e dos blogs.
Mais tarde essa amizade tornou-se real e mesmo longe acompanhamos a vida uma da outra.

Só tenho pena de ter estado longe de ti, nesta altura, gostava que Coimbra fosse mais perto e que a vida não fosse este corre, corre!

Mas aqui fica a história da Carmo e de como o cancro veio mudar a sua vida!


"No dia em que a minha vida mudou…



"Tudo começou numa ida ao médico de família. Eu e os meus filhos vamos fazer sempre no final do ano lectivo uma consulta de rotina, onde também fazemos exames. Nesse ano de 2018, não foi excepção foi feito tudo como previa os protocolos do SNS. 
No meu caso em especifico, exames a urina, sangue, rx, mamografia e ecografia mamaria, a citologia não fiz pois tinha feito no ano de 2016, e agora é de 3 em 3 anos.

Fui com a minha filha mais velha numa manhã de Junho à clínica Climague. 
Ela fez as recolhas sanguíneas, que foi um drama, pois tem medo de agulhas, depois foi a minha vez. Foi divertido rimo-nos com a reacção dela …nem eu nem a enfermeira estávamos a contar com tal drama. Mal sabia eu o que me esperava ainda…
Ela foi para a escola, e eu fiquei para realizar os outros exames.´

Fiz a mamografia, que me doeu horrores, não gosto nada que me apertem daquela maneira, tenho sentimentos eh eh eh. 
Até comentei com a menina que tinha idade para ser minha filha:
“Costuma se dizer, que quando dói, é sinal que está tudo normal e esta mama doeu, espero que a outra que não doeu nada não tenha nada!”
Ficou um silêncio estranho na sala… Algo bateu no meu corpo não sei explicar. Fiquei nervosa, qualquer coisa que não estava bem. 
Ela respondeu me: “ O dr. Rui Bugalho, vai fazer lhe a eco, e se necessário explica-lhe.“ E lançou-me um sorriso para eu não me preocupar…

Fiquei logo com o batimento cardíaco a mil, a transpirar, com arrepios, todas as minhas emoções estavam à flor da pele.

Entro no gabinete, ele já tinha o resultado da mamografia, deitei-me, colocou o gel na mamoca e esmiuçou. 
Que desconforto... nem imaginam. Sem dizer uma única palavra simplesmente olhava
fixamente, comparava com o do ano passado. Quando terminou perguntou me a idade, e foi directo ao assunto, sem rodeios, nem sentimentos, nu e cru:

“Tens aqui um nódulo que é para tirar o mais depressa possível,
É pequeno, mas é para tirar, vou passar uma carta à tua médica de família, e ela passa-te os exames complementares que terás de fazer, mas ficas já preparada que é para tirar…” 

As lágrimas teimavam em sair, tal não foi o choque. Não estava a perceber nada, ou a perceber tudo nem sei explicar...
Aguardei na sala de espera pela carta e exames, e quando a assistente me entregou, fez me um carinho na mão e diz-me :

“ Vai correr tudo bem, tem de ser forte!”

Só sei dizer que tive um ataque de choro, pois apercebi-me naquelas palavras pesadas e que eu tinha CANCRO.

1º PENSAMENTO: VOU MORRER...

2º VOU FICAR CARECA….Tanta coisa na minha cabeça….chorei até ao estacionamento, liguei para a minha amiga , também patroa, e pedi-lhe ajuda…pois foi a única que me lembrei que podia ter conhecimentos para me arranjar forma de eu ir directamente ser acompanhada pelo IPO de Coimbra.
Ficamos ambas a falar ela a acalmar-me, mas não estava a conseguir…entrei em pânico mesmo. 
Só pensava no futuro dos  meus filhos, se eu lhes faltasse o que seria deles visto ser pai e mãe….

A medica de família passou-me uma credencial para o IPO, mas nem esperei muito graças à “cunha” desta minha amiga.
Fiz a biopsia, no IPO e ao fim de 18 dias recebo um sms com uma consulta agendada para 23-08-2018. 
Recebo o diagnóstico.... tumor maligno fase 1, assim, fácil de todos percebermos.

Fiz logo consulta com a equipa de cirurgiões, e radiologistas que já tinham estudado o meu caso. 
Aparentemente era só retirar o nodulo, que de tão pequeno não se sentia no rastreio palpatório e mesmo visível nas ecos, foi sem dúvida, ter sido um excelente profissional a exercer a sua função.

Explicaram me todos os procedimentos previstos para o meu caso clínico. 
Seria feito uma tumorectomia alargada com biopsia de gg sentinela. De seguida com sessões de radioterapia.
Colocada em lista de espera urgente…não foi fácil, acho que nem assimilei bem tudo ainda hoje…por vezes penso que estou a sonhar. Que ao acordar não vai passar de um sonho...

Entre medos, choros, a falta dos familiares que eu pensava que iam estar mais presentes… pouco ou nada. 
A minha família o meu apoio foram sem dúvida os meus filhos, uma amiga que muitas vezes digo se fossemos namorados não nos dávamos tão bem. 
As minhas patroas ainda hoje aguardam que retome os meus serviços (limpezas), duas já recomecei, graças a Deus.

A cirurgia foi a 9 de novembro, 11h… fiquei na cama 9 e foi no dia dos anos do meu querido pai. que foi o meu anjo da guarda,
“Obrigado PAI “…Coincidências não!?

Correu bem, foi muito bem acompanhada, senti me acarinhada por todo o pessoal deste auxiliares, enfermeiros, seguranças quando vínhamos tomar café à maquina que ficava no piso inferior à enfermaria, tudo me transmitiu tranquilidade, segura e acima de tudo tinha fé, esperança! 

Pedi –lhe que fosse feita a vontade dele. 

Lembro me de acordar no quarto completamente sedada. 
As minhas colegas que foram umas queridas, até estavam curiosas para saber quem era a  mulher que estava a ressonar tanto…quando viram que era eu, foi rir até mais não!

Fiz penso todas as semanas depois da alta, ainda tive de fazer drenagem através de uma agulha, dói mas não mata.
Foram tantos os apertões os amassos…tirei a barriga de misérias!

             Marcação Radioterapia

Nunca me faltou o humor a alegria e esperança. Sem duvida que foi um escudo quando me faltava uma simples companhia presencial nas idas aos pensos, consultas…quando as filhas/o
podiam e queriam iam, mesmo nas sessões de radio.

A minha amiga Paula foi comigo uma única vez por que não dava mesmo para ela, mas fazia questão de me acompanhar durante a viagem do IPO até casa através de uma chamada.

Os meus filhos sofreram comigo, ansiavam comigo, mas mal ou bem senti o afecto e a preocupação de cada um deles à sua maneira. Precisei de muito mimo e carinho não tive de todos os que gostava, mas não lhe cobro, nem culpo. Pois sei que nem todos têm a mesma forma de reagir no que toca a dar apoio num assunto destes.

Hoje, ainda a recuperar, pois ainda tenho medo que ele volte, mas sabem que mais? 
Tenho uma coisa muito importante. Gosto tanto de mim, amo-me mais que nunca, posso cair por amor, ou outro desgosto de que forma venha ele! 
Mas irei lutar, ter esperança, fé…

Li dois livros que me ajudaram muito, o da Sofia Ribeiro, “Confia”. Chorei e revivi cada momento cada sentimento, e um outro de Tiago Brunet “ Descubra o seu destino, as chaves que abrem as
portas para o seu destino”. ADOREI! Foi como se fosse uma meditação, recomendo mesmo.

Comecei a amar-me mais ainda…eu 1º óbvio, pois se eu não me amar, não gostar do que vejo, como poderei expressar o meu amor pelo próximo?
A valorizar estar mais tempo comigo … a viver os bons momentos, sejam eles com filhos, amigos verdadeiros e sem expectativas ou planos…vive-se um dia de cada vez.

E sem que eu contasse, fui surpreendida pelo destino…o renascer de um novo amor. 
Onde pensamos que a vida nos puxa o tapete, o destino surpreende-nos com um grande amor.
Daqueles que nos faz ter borboletas na barriga, do mais puro que possamos imaginar ou desejar…Não somos donos da nossa vida mas podemos comanda-la…e eu tenho feito até aqui uma boa condução dela. 

As coisas menos boas não as desejei, surgiram sem pedir licença, mas deram-me muita sabedoria, força, e esperança em acreditar ter fé que um dia eu ia ter paz, ser feliz,

Transmitir amor e receber um grande amor…esse dia surgiu..

SOU QUEM AMO. SEREI SEMPRE O MELHOR DE MIM

Carmo"