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Ora agora falas tu!



Ora agora falas tu!
Uma nova rubrica do Bluestrass, onde vou dar a voz a outras pessoas
para falar/escrever o que queiram.
Para este primeiro post convidei a Andreia Morais do blog "As gavetas da minha casa encantada"
Então a Andreia brinda-nos com um texto maravilhoso sobre os livros que gostaria de ter escrito. Parabéns Andreia, adorei não só o tema mas também o que escreveste.
O lado bom de ter um blog são estes momentos de partilha maravilhosos

Os livros que gostava de ter escrito...

"A magia da literatura não está, somente, nas palavras. Está na mensagem. Na construção frásica. No enredo que se desenrola como se fosse um novelo de lã. E na capacidade que o autor tem para, em obras distintas ou na mesma, nos levar numa viagem de sensações. De emoções. De descoberta constante. E é extraordinário como, com mestria, nos envolve na história, quase como se fosse nossa. O humor, o traço que nos deixa em suspenso, as lágrimas que se formam, os sorrisos que se multiplicam, o coração que aperta, a paz que nos reconforta… Há tanto mundo dentro de um livro. E eu aprendi – com o tempo e com a maturidade – que a leitura é uma extensão bonita da minha personalidade.

Quando recebi o convite para colaborar no “Ora agora falas tu”, o tema surgiu nas entrelinhas da conversa. E partindo de uma sugestão indireta, os contornos da minha publicação solidificaram-se de uma forma quase óbvia. Não só porque me faz sentido, mas também por sentir que se relaciona com o conteúdo do Bluestrass. Assim, a ideia abraçou-me como uma brisa. E ganhou espaço no meu coração. E é desta maneira que observo os livros – sempre físicos, para mim –, porque podem chegar à nossa vida em passos de algodão, mas permanecerem em nós para sempre. Ao observar a minha estante, há histórias que conheço de cor. Porque tiveram um impacto gigante no meu percurso. Por isso, não me importava que fossem da minha autoria. Também vos acontece?

Partindo desta perspetiva mais egoísta, designemo-la assim, se tivesse esse privilégio, há dez livros que que gostava de ter sido eu a escrever.

O Principezinho // Antoine de Saint-Exupéry: É das histórias, aparentemente, mais simples e encantadoras de sempre. A sua mensagem é transversal à passagem cronológica e à idade. E, sinceramente, sinto que todos nós a deveríamos ler, pelo menos, uma vez na vida, porque preserva um conjunto de aprendizagens essenciais à nossa existência, quer individual, quer em sociedade.

O Pintassilgo // Donna Tartt: Cruzei-me com esta autora por acaso, mas rendi-me à sua escrita para sempre. E O Pintassilgo é uma das obras mais geniais que tive a oportunidade de ler. Porque é de uma dureza e sensibilidade fascinantes. Faz-nos cair no fundo das nossas sensações, para depois recuperarmos a esperança. Além disso, é um livro com uma forte componente humana, que nos faz sentir tudo à flor da pele.

Orgulho & Preconceito // Jane Austen: Posso não ter a maior lista de clássicos lidos, mas este será sempre o meu favorito. Porque desconstrói a imagem do ser humano, das aparências e do amor. Simultaneamente, ficamos a conhecer uma ligação intensa e inspiradora, de duas pessoas com personalidades vincadas. Este livros é verdadeiramente apaixonante.

Trilogia Millennium // Stieg Larsson: Sou apaixonada por histórias de crime e mistério, ainda para mais quando estão escritas com tanta genialidade. Stieg Larsson, que faleceu em 2004, conseguiu criar um enredo viciante, que nos envolve do início ao fim. Quem me dera ter sido a criadora desta trilogia – agora saga –, que coloca em perspetiva os contornos da mente humana, revelando os traços mais negros da alma – mas sem perder a magia das relações interpessoais. Porque nunca estamos sozinhos na nossa caminhada.

Cinco quartos de laranja // Joanne Harris: Comprei este livro numa loja em segunda mão, sem ter qualquer opinião de base. Mas ainda bem que o trouxe comigo. Grande parte da narrativa tem um cenário de guerra como fundo, mas quando começamos a conhecer a história da família Dartigen tudo o resto fica em segundo plano. Com contornos obscuros, o presente reencontra o passado. E há segredos que voltam a aparecer. Além do mais, a dicotomia da casa atrai, envolvendo-nos numa dinâmica surpreendente.

Travessuras da Menina Má // Mario Vargas Llosa: Foi um presente de Natal e entrou diretamente para a minha lista de favoritos. Porque transporta-nos para um ambiente emocional complexo, denso e inquietante, que nos coloca em contacto com uma realidade crua, direta, de um amor intenso que procura sobreviver a um jogo constante de interesses. Profundamente marcada por desencontros – físicos e sentimentais, este livro é imprevisível. E com um final brilhante.

Como é linda a puta da vida // Miguel Esteves Cardoso: O MEC é, incontornavelmente, uma das pessoas que mais me inspira a escrever. Porque a forma como observa o mundo é fascinante. O seu registo mordaz, minucioso e intemporal, faz-me observar cada detalhe com máxima atenção, porque tudo é uma fonte inesgotável de reflexões. No entanto, esta obra fica marcada por um registo mais emocional e pessoal, mostrando-nos outro lado do autor.

O sol e as suas flores // Rupi Kaur: Este livro é amor no estado mais puro. É crescimento. É sobrevivência. É respeito. É aceitação. É luz – de dentro para fora. Que lufada de ar fresco que foi cruzar-me com esta obra e com a escrita da autora. Porque tem uma abordagem honesta, crua, mas sem perder todo o seu lado de poesia.

A Desumanização // Valter Hugo Mãe: Foi assim que me estreei na sua obra e, até hoje, foi das narrativas mais desarmantes que li. Pode parecer estranho, mas retrata a morte de uma maneira tão bonita, que é impossível não nos rendermos às descrições, aos momentos e aos laços que se perpetuam no tempo, mesmo que a presença física já não seja possível. Há muito sofrimento, sim, mas também existe uma catarse surpreendente.

Capitães da Areia // Jorge Amado: É intenso e comovente, envolvendo-nos no seio de um grupo disfuncional, carente de afeto, que caminha à margem da sociedade e sempre no limite da legalidade. Mas há um aspeto que, para mim, se destaca no meio de tantas aprendizagens: por mais que possamos nascer condicionados pelo nosso ambiente familiar, não ficamos predestinados à miséria. Somos sempre influenciados pela nossa condição e pelas circunstâncias que nos afetam, mas não temos que ficar presos a essa realidade.

As possibilidades, apesar de tudo, não se esgotam. E esta lista está em constante metamorfose. Que livros gostariam de ter sido vocês a escrever?"

Comentários

  1. Maravilhosa conversa, a Andreia nunca para de nós surpreender!! Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Muito, muito obrigada por este convite e consequente oportunidade! Foi um gosto enorme colaborar para a tua nova rubrica *-*

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  3. Gosto muito da Andreia e quem não gostaria de ter escrito O Principezinho? :)
    Beijinhos as duas e muitos Parabens pela rubrica inspiradora*
    https://matildeferreira.co.uk

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  4. A Andreia não nos para de surpreender. Parabéns às duas pela rúbrica e pelo texto maravilhoso <3

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  5. Já li o livro "Travessuras da Menina Má" à alguns anos, gostei muito!

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  6. Um post adorável... que referencia grandes escolhas literárias!
    Adorei esta rubrica! Beijinhos!
    Ana

    ResponderEliminar

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