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Helena Jorge - Uma Mulher cheia de pequenas grandes histórias para contar!


A entrevista de hoje, traz a história de alguém por quem nutro um carinho e um respeito muito grande.
Helena Jorge, artesã, mulher do mundo e uma alma cheia de aventuras para contar!



A sua ligação com o artesanato sempre fez parte da sua vida?
- Comecei com os bordados, crochets e tricots, muito menina (5/6 anos). Foi a forma que a minha mãe arranjou de me entreter em casa e de me impedir de ir para a rua brincar com os outros meninos e meninas da minha idade. Eu não podia aparecer em casa com a cabeça partida, entendes????

Este amor ao artesanato, não se resume às malhas e bordados, que outros caminhos já percorreu e/ou percorre neste momento?
- Pois não. Um dia uma amiga grávida fez-me um desafio. Queria o que em Portugal ainda não
havia e o que conseguia encontrar era a preços exorbitantes. A pensar na pegada ecológica e na poluição que as fraldas descartáveis são para o ambiente (cada fralda demora cerca de 500 anos a desfazer-se em aterro), ela precisava de fraldas reutilizáveis…
A minha experiência em costura era mínima mas, abracei o desafio e com o material disponível na altura meti mãos à obra. Surgiu o projecto fraldisqueiras…
Com as FRALDISKEIRAS houve que encontrar pontos de venda. Não havia, por isso tivemos que os criar. Que melhor local para “nos” mostrarmos senão nas feiras de artesanato?
E a nossa 1ª feira foi no Palácio Ribamar em Algés.
Outras se seguiram neste local, uma experiência que me apaixonou. 



Nunca imaginei que o ambiente entre artesãos fosse tão fantástico. Aprendi e ensinei, troca de saberes e fazeres. Foi fantástico. Depois veio a feira de Paço D’Arcos, a de Benfica e mais umas quantas de carácter pontual.
E o bichinho ficou. Quando as feiras mencionadas por esta ou aquela razão para nós terminaram, houve que arranjar outros espaços.



Eu mesma organizei algumas com carácter solidário.
Na Paróquia de Alfornelos e após esta terminar, iniciamos outra em colaboração com a Junta de Freguesia de Encosta do Sol. Neste momento estamos em pausa. ~
Vamos acreditar que um dia voltaremos a estas andanças. Temos saudades destes convívios...

O que a inspira? É a arte em si? É poder dar a conhecer aos outros a sua versão da arte?
- O que me inspira? Não sei. É algo que vem de dentro. Da Essência. A necessidade de experienciar coisas novas, aquelas que não domino mas que me desafiam.
Gosto de dar azo à imaginação. Sou livre e permito-me livremente caminhar, seja com agulhas, com lãs, com trapos, organizando feiras de artesanato, enfim…



A maneira com que se trabalha e se expõe os trabalhos, não se faz da mesma maneira de há 30 anos atrás. O que mudou?
- Há 30 anos eu não estava virada para estar andanças. Trabalhava num escritório muitas horas e o tempo livre era pouco. Fazia as minhas malhas e os meus crochets para desanuviar. Sempre gostei. Para mim eram e são uma terapia. Posso dizer que ainda hoje, para mim, são uma forma de meditação. Entro noutra dimensão quando tricoto ou crocheto…




A Helena também tem experiência em medicinas alternativas. Em que área? Foi por mera curiosidade ou por necessidade? 
- Sim tenho. Comecei em 2003 devido a uma doença grave do meu sobrinho (na altura um jovem de 18 anos). Os médicos não se entendiam e estávamos todos em desespero.
Uma amiga falou-me de Reiki, e eu, sem saber o que era ou até mesmo no que consistia, fui fazer o curso. Estava a ser sintonizada no 1º nível e uma voz interior falou-me: “foi isto que procuraste a tua vida toda, continua e segue”. As lágrimas caiam-me dos olhos e uma felicidade imensa inundou-me. Foi maravilhoso. E continuei. Já tinha perdido tanto tempo.
Logo completei o mestrado de Reiki, o mestrado de Karuna, muitas outras sintonizações com as quais não tenho trabalhado mas a maior paixão, a minha “praia” que me define mesmo, é o XAMANISMO dos Guarani onde utilizo tambor e maracas, sons curadores duma vibração elevada

E o projecto do pão como aconteceu? É o voltar às recordações de quando era mais pequena?
- Eu sou portadora duma doença auto-imune que se chama espondilite anquilosante.
Esta doença afecta todas as articulações da coluna vertebral assim como as que lhe estão próximas. Está provado que as doenças AI tem inicio no nosso 2º cérebro que é o intestino.
Como sabemos, os nossos alimentos estão cada vez mais manipulados e alterados o que nos afectam imenso. Sou também muito renitente em tomar medicação química.

Claro que não sou inconsciente e às vezes tenho mesmo de a usar mas, se poder fugir dela não penso 2 vezes. Com as minhas terapias, ao longo dos anos eu consegui libertar-me dos anti-inflamatórios, pois o Reiki e afins, minimizaram-me os processos inflamatórios e a dor.
Sou adepta de uma medicina alternativa em que o todo é olhado.
Por sorte o Universo, trouxe até mim uma nova amiga, médica, especialista em medicinas integradas, alimentação Kousmine e próbióticos. Comecei a seguir a sua orientação clínica e a fazer o tratamento adequado ao meu caso.
A primeira coisa a mudar radicalmente foi o pão. O pão comum que se vende por aí é feito com farinhas todas elas processadas e cheias de componentes que muitas vezes nem sabemos o que são.

Sendo assim, houve que comprar as farinhas integrais e biológicas, arregaçar as mangas, pedir ajuda às minhas ancestrais tias avós padeiras e começar a desbravar a arte da masseira.
Foi mais uma descoberta incrível na qual me estou a viciar. Adoro inventar pão, fazer as minhas misturas, partilho com as minhas amizades mais próximas e todos nos vamos deliciando com as minhas aventuras.
Ontem a minha amiga médica pediu-me para lhe guardar do meu pão para ela levar quando vier a Lisboa…

Em que consiste aquilo a que chamam a "Massa Mãe"?
- A massa mãe é nem mais nem menos que o fermento fresco, novo, feito por nós em casa.
Serve como levedura da nossa massa de pão.
É muito fácil de fazer, tem é de ser cuidado todos os dias e alimentado durante pelo menos 7 dias antes de ser usado pela 1ª vez.

Como se faz? Num frasco de vidro limpo colocar p.ex. 25 g de farinha e igual quantidade de água, fazer a papa e guardar no frigorífico.
No dia seguinte mexer bem a papa do 1º dia e juntar mais 25g de farinha e igual de água.
Guardar no frio,
No 3º dia, o mesmo procedimento e assim sucessivamente até ao 7º dia.
Nessa ocasião a papa do frasco já deve ter fermentação e um cheirinho a azedo sinal de que já está capaz de ser usada. ~
Qualquer farinha pode servir para fazer massa mãe no entanto o frasco deve ser alimentado SEMPRE com o mesmo tipo de farinha. Se isso não acontecer a massa mãe morre…

Este é um projecto apenas de fazer pão para consumo próprio, ou também vende alguma parte?
- Como já escrevi atrás, neste momento é só para mim, mas quem sabe se o projecto, depois de bem desenvolvido não avança para outras vivências???

Tem preferência por algum pão em particular?
- Adoro pão de centeio Mas este menino tem-me dado cada bailinho.
Tenho de lhe dar a volta e enfrentá-lo de caras. Quero ganhar este bailado…

Por último sobre os sabões. Como nasceu a vontade de explorar esta arte da saboaria?

- Por um mero acaso, digo eu, passei um dia do ano 2009/2010 por uma página do FB que se chamava saboaria. Fui investigar e verifiquei que nela se partilhavam saberes e fazeres de como um sabão surgia.
Fui estudante de química nos anos 60 e confesso que esta página me deixou bastante interessada. ~
Era uma forma de pôr em prática o que aprendera na escola e que nunca praticara.
Pedi amizade e com as amigas da época, cerca de 80 (hoje somos cerca de 6.000), comecei o estudo e a colocar em prática o aprendizado.
O meu 1º sabão foi nem mais nem menos do que um dos que ainda hoje faço, com a fórmula bastante melhorada, usando óleo de fritura usado. Um maravilhoso sabão para lavagem da loiça e na retirada de nódoas de gordura de roupa

Em que consiste?
- Na saponificação de óleos de todos os tipos, usando uma diluição de soda caustica.
Todos os óleos são pesados à grama.  Nos sabões de corpo e de acordo com os óleos (gorduras) utilizados, os seus pesos/tipo assim o peso da soda caustica varia e a quantidade a ser utilizada é calculada.
A soda caustica é diluída em água e essa mistura é junta aos óleos preparados.
Usando a varinha mágica são mexidos até atingir uma consistência pastosa tipo maionese.
Nessa altura coloca-se essa massa nos moldes e espera-se até ao dia seguinte para que o processo químico se efectue e a massa endureça.
Nessa altura, normalmente 24 horas depois, é retida a barra já dura do molde, corta.se em pedaços de tamanho já previamente estabelecido e põem-se a curar durante, no mínimo 30 dias.



Os produtos utilizados são óleos essenciais?
- Podemos usar óleos essências para dar um uso terapêutico e cheiro aos sabões.
No entanto, os óleos com que o sabão é feito são vários. Podemos usar somente azeite, juntar óleo de coco, óleo de rícino, óleo de grainha de uva, óleo de palma, óleo de amêndoas doces e por ai fora. Manteigas também são usadas com frequência. Manteiga de cacau, manteiga de karite, estas as mais frequentes…

Os sabões que faz são apenas para utilização no corpo ou para outros fins?
- Alguns para o corpo sim. Normalmente os meus sabões não têm cheiro.
Todos eles são feitos com um fim especifico e para tal trabalho com a junção e sinergia dos óleos que utilizo. Foram várias horas/dias a estudar os benefícios terapêuticos dos vários óleos e quais as quantidades seguras numa fórmula para adquirir um bom sabão útil para determinado fim.

Também, como já escrevi acima, o meu 1º sabão continua a ser feito, usado e bastante procurado. Feito com óleo alimentar usado (OAU), reciclamos os óleos que assim não vão poluir as águas, pois não são atirados para o esgoto e fazemos um sabão maravilhoso para desengordurar as nossas loiças e limpar nas lides domésticas com uma qualidade muito superior aos detergentes de loiça mais afamados do mercado.

Faz apenas sabões/sabonetes ou outros produtos? Quais?
- Neste momento dediquei-me apenas à feitura de sabões. Sabão para cosmética e sabão para limpezas domesticas.

Após fazer a "massa" (se é que se chama assim), quanto tempo demora até ficar pronto para utilizar?
- No mínimo 30 dias, para que todo o processo químico se efectue e todos os óleos se transformem em sabão.

Uma nota muito importante para o público em geral. Estes sabões artesanais estão totalmente isentos de conservantes e aditivos químicos.
O único químico usado é a soda caustica sem a qual não há sabão em qualquer lugar do mundo…


Uma mensagem a todos os artesãos.

Desenvolvam as vossas apetências. Arrisquem em coisas novas, sem medo de errar.
Ninguém nasce ensinado e só a prática nos pode levar à “perfeição”. Estudem.
Peçam ajuda a quem sabe um pouco mais que vós. Aprendemos todos juntos e no meu ponto de vista
este é a razão do nosso viver.
A Vida só faz sentido se dermos as mãos e nos ajudarmos uns aos outros. Os grupos são uma mais valia que hoje temos à nossa disposição…

Com muito Amor
Helena Jorge

Amor e Compaixão – Terapias, produtos naturais e artesanais

Fraldiskeiras


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