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Joana Cunha- Corajosamente emigrante


A história da Joana e da sua família é igual a tantas outras histórias de outras famílias portuguesas que resolveram arriscar e deixar o seu Portugal. Aqui fica a entrevista onde se fala da decisão, das dificuldades mas também das coisas boas que descobriram com esta mudança!

Deixaram Portugal e emigraram para Inglaterra. Essa decisão foi tomada porque resolveram arriscar ou porque não havia volta a dar?
- Bem, acho que no fundo foi pelos dois motivos. 
A vida em Portugal estava financeiramente muito difícil para nós, foi difícil pelos 10 anos que vivíamos juntos aliás. 
Tínhamos tentado em 2008 para a Bélgica, mas não correu bem e em duas semanas desistimos. Não sentíamos que fôssemos feitos para ser emigrantes, de todo. 
Foi horrível. 
Depois os anos foram passando mas ia sempre aparecendo essa ideia... talvez por ser a única solução para deixarmos de viver de ajudas, porque era como vivíamos. 
Até que em 2015, já com a nossa bebé decidimos que era hora de tentar de novo e começamos a planear tudo. 
A maturidade já era outra, agora tínhamos uma filha para criar, e desta vez tínhamos também a companhia da minha irmã, cunhado e sobrinha, e dos nossos melhores amigos e da filhota deles, a nossa afilhada que embarcaram connosco nesta aventura. 
Entretanto em Fevereiro de  2016 surgiu o pré diagnóstico de autismo da nossa filha e aí tivemos certeza de que "tinha que ser". 
Portanto sim, decidimos arriscar, e teve que ser. 🙂

Optaram pela emigração porque em Portugal não tinham trabalho ou porque foram em busca de uma nova vida?
- O meu companheiro tinha trabalho, mas ainda assim era muito difícil suportar todas as despesas. Portanto viemos em busca de uma vida um pouco melhor e com mais oportunidades.

Quando chegaram que dificuldades tiveram?
- O meu companheiro veio primeiro. A primeira grande dificuldade foi estarmos separados. 
Depois claro que foi uma aventura os transportes, a procura de um quarto para ficar, a busca de emprego, as burocracias... mas não foram propriamente grandes dificuldades, foi o normal para a situação e estávamos informados e preparados para isso. 
Em pouco tempo estava a trabalhar e em 4 meses pude juntar-me a ele.

A adaptação foi fácil? Lidaram bem com as diferenças culturais, o clima?
- A adaptação foi óptima felizmente. Antes de vir preparei-me para a multiculturalidade que ia encontrar e para o tom cinzento do céu. 
Era o que achava que me podia afectar/chocar mais pela diferença, e então usei e abusei do google para ver mil e uma imagens da cidade onde ia viver. 
Ao chegar parecia que apenas estava finalmente a ter contacto directo com o que já tinha visto. 
Lembro-me que mal saí do aeroporto foi estranhissimo o facto de andarmos do lado e sentido contrários no carro e na estrada, mas já sabia portanto foi só rir e dizer que estavam todos loucos em contra-mão. 😊
Também é muito diferente a nível de horários: aqui ás 16/17h está tudo a fechar e acabou o movimento. 
Em pleno verão não se passa nada nas ruas (salvo o centro da Cidade). Foi estranho... mas já entramos no ritmo.


Como reagiu a Leonor à mudança?
Para a Leonor foi muito difícil estar longe do pai os 4 meses, mas depois aqui agiu como se nada se tivesse passado. Estava connosco e portanto o resto era só cenário.  🙂



A integração dela na escolinha foi pacifica?
- A integração dela na creche correu muito bem. Ela adorava ir e continua a adorar. 
Em Setembro começa a escola primária e isso sim já me assusta um pouco. 
Mas em Portugal também iria assustar mesmo.

Após se ter dado o Brexit sentiram alguma pressão ou discriminação por parte dos ingleses?
- Sinceramente creio que o Brexit ainda não se deu realmente. As negociações continuam, ainda está tudo muito no ar e apesar de incerto têm garantido que os europeus que cá estão poderão continuar. 
Mas descriminação ainda não sentimos desde que aqui estamos felizmente. Somos sempre bem tratados e recebidos em todo o lado, nada a apontar. 
Mas sei que muitos estrangeiros lamentavelmente têm sido alvo de descriminação, e isso ainda nos pode vir a acontecer. Esperemos que não.

Conseguiram fazer amigos desde que ai estão? Portugueses ou de outros países?
- Sim, poucos ainda, mas sim. Ganhei um casal de amigos brasileiros maravilhoso, e o meu companheiro já fez mais uns quantos no Jiu-Jitsu e no trabalho. 
Eu não saio muito de casa, mas para dizer verdade não sinto muita necessidade porque tenho cá os familiares e amigos que vieram na mesma altura e sinto que para eles o tempo já é pouco o suficiente, preciso arranjar mais disponibilidade em vez de mais amigos para já. 🙂

Como ocupam o vosso tempo livre? Conhecem a vossa zona?
- Adoramos passear aqui. Sou fascinada pela natureza e este país brinda-nos com imensos espaços verdes, animais diferentes dos que via em Portugal, em 40 minutos vamos ver o mar de Liverpool também, e ainda há tanto para conhecer.



Tencionam voltar para Portugal?
 - Neste momento não está nos nossos planos regressar a Portugal. Mas o futuro dirá.

Para além da família, do que sentem mais falta?
- Para além da família o que sentimos mais falta é do mar ao pé de casa, das lojas e cafés de rua que aqui mal existem, das noites de verão movimentadas, da gastronomia embora essa eu tente recriar cá em casa. E penso que é isso. 🙂

Uma mensagem:
Como mulher, mãe, e esposa, sinto que tomamos a melhor decisão ao vir para cá. 
Porque quando saímos da nossa zona de conforto, descobrimos coisas sobre nós mesmas que nem nos passavam pela cabeça. 
Eu não fazia ideia de que ia gostar de viver aqui como gosto, não fazia ideia de que podia me sentir uma mãe melhor, uma esposa melhor, uma irmã melhor, depois desta mudança. 
Talvez me tenha reinventado, e ser mulher é isso mesmo, reinventarmo-nos todos os dias. 
Por nós e pelos nossos...

Joana Cunha




Fotos gentilmente cedidas pela Joana.

Cumprimentos a todos e bom fim-de-semana!
Sandra C.

Comentários

  1. Excelente texto parabéns Sandra :) muitos parabéns e continuação de bom trabalho :) beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Um testemunho inspirador! Gostei muito da entrevista :)

    r: É verdade, estes dias marcam-nos para sempre
    A sério? Seria uma belíssima idade

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade Andreia! 100 anos... não a cheguei a conhecer, morreu devia ter cerca de três ou quatro meses... Era uma mulher do norte! Acho que herdei dela algumas ganas que tenho!!
      E herdei do pai dela os genes artísticos, era um pintor fantástico!

      Eliminar
  3. Fantastico.... Parabéns sandra pela narrativa e tu joana pela força que tens tido sempre de superar os obstáculos da tua vida, beijinhos às duas ��

    ResponderEliminar

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